quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Não

Não se olhe no espelho,
Não se ame por inteiro,
Não conheça a si mesmo,
Não siga seus conselhos,

Não seja do seu jeito,
Não viva com esmero,
Não reze bons trechos,
Não publique o desfecho,

Não coma o recheio,
Não pontue os defeitos,
Não observe o contexto,
Não ajude um parceiro,

Não ouça um aventureiro,
Não se esqueça do ponteiro,
Não aproveite o travesseiro,
E não obedeça este texto.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Posições

Escrevo de ouvido.
Não detalho o que escuto,
Pois ouço demais e
Pouso o que entra no que saí.
Ler eu leio de boca,
Sou mais vocal, mais oral.
Firmo isto em poesias.
E as assinalo sem regalias.
Para que o amor não morra
E eu não escorra;
Para que a vida (re)produza,
E eu não a reduza;
Tudo isto porque:
Escrevo de ouvido,
Leio de boca;
Inverto essas posições
E leio de ouvido,
Escrevo de boca...
E haja inversões...

sábado, 6 de novembro de 2021

O risco

O liame entre o efêmero e o eterno é o risco; e viver é arriscar-se, é um constante vir a ser, vir a ter e vir a estar. Não há nada mais potente que um instante sem antever qualquer prejuízo oriundo dele. O tempo vivido ocupa nas orações um espaço onde há na prática o verbo amar. O amor, porém, é ímpar, somos nós quem precisamos nos parear para não pararmos de conjugá-lo.


quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Márcia

Que significa guerreira dentro ou fora da guerra;

Que responde por Marcinha;

Que atende por Japiassú;

Que é chamada de Japi;

Que ama Márcia Filha;

Que assina Amaro do italiano: Amargo;

Que não é João, mas é Batista;

Que tem "de Souza" como a maioria;

Que se pudesse escolher chamaria Moema;

Mas não descartaria Miranda – em homenagem a Priestly, Hobbes e Bailey 
 (referência é tudo);

Que se fosse homem escolheria Timóteo;

Só que se fosse mãe batizaria de Heitor,

Que tem muitas alcunhas para poucos papéis;

E seis nomes insuficientes para tanto amor.

terça-feira, 8 de junho de 2021

Sei que o correto é 'deixa-me', mas, 'deixa eu' te pedir algo:

Deixa eu tratar os afetos insuportáveis que despacho ou abraço;

Deixa eu tomar consciência sem os óbices da resistência;

Deixa eu sumir com a culpa ao me responsabilizar por ela;

Deixa eu resolver os conflitos presentes nos verbos pretéritos;

Deixa eu dizer que a rima não nasce sem o aval da sina;

Deixa eu espaçar minha vida pelo esquadro do momento;

Deixa eu remover das horas vagas a pressão do desempenho;

Deixa eu expressar nesta mensagem minha ode à liberdade.

segunda-feira, 7 de junho de 2021

A evolução da cara de paisagem

Esta não é mais uma crônica de efeito, embora só a sua leitura dirá se te serve ou não o que escrevi. Aqui revelo um modo promissor para algumas (não todas) pessoas, chamado "cara de samambaia" – expressão usada por uma amiga cujo sentido é similar a "cara de paisagem". A lógica deste texto, a propósito, vem do diálogo que a gente teve no qual me  identifiquei como adepta dessa cara. 


Sobre esta, a própria consiste na postura – inspirada em uma planta – que demanda um certo treino, uma observação acurada , um dom trabalhado e uma sabedoria maleável. Depois de aprendida, fato, é inevitável usá-la na hora que alguém saí de si e te ofende, por exemplo. Eu diria que um dos intuitos dessa ação é se tranquilizar, com maturidade, para elaborar a melhor forma de resolver o conflito sem piorá-lo e/ou causar danos ainda maiores.

Ela vem junto a escolha que fazemos quando decidimos se queremos ter paz ou razão. Se você escolhe a paz, saiba: este é o primeiro passo para vivê-la. Todavia, é importante lidar com quem nos aduba, nos rega, nos poda e principalmente quem nos extirpa nos isolando até da sombra. Usuárias dessa cara são constantemente questionadas sobre "como elas dão conta?", a questão é exatamente essa: elas já sacaram que não tem que "dar conta" de tudo, só com aquilo que está ao alcance delas e se ouvir pode ser o ponto chave da percepção, por que não tentar?

Aqui cabe dizer que a cara de samambaia só é efetiva quando a pessoa conhece ou busca conhecer seus processos internos, cônscia das suas limitações e dos vacilos naturais que são postos para todos – até para quem,  desautorizado, vai lá e puxa um pedaço que ainda não amadureceu. Porque possuímos fragmentos em formação, e prematuros, que estão enraizados a fim de crescerem no seu tempo e com sua identidade.

Samambaias são longevas –  crescem com as crianças e amadurecem com os jovens, avançando a fase adulta com seu folhecer e força; são uma amostra da natureza sobre a paciência que devemos ter com a gente e com os outros. Logo, o acesso ao amor mais humano de todos: o próprio – faz esse carinho ceder aos demais uma parte única sua: a gratidão.







segunda-feira, 31 de maio de 2021

Para falar "adeus" sem culpa

A grande pedida da despedida é o fim. Pois, o bem cruzado com o mal afasta a calma do início.  A tensão só estabiliza quem vibra com ela, os imóveis se desequilibram e caem. A queda é dolorida e apavorante. Partir só agrada quem vai ou foi e olha lá.

Ninguém quer abrir a mão e fechar os olhos se não houver presentes. Não há dádiva que embale o choro para viagem, já que quem sente se ocupa das lágrimas. São as lições pelas pistas que amenizam os suspiros e quando a liberdade emerge não colocamos impedimento ou culpa (amém). O seu saudosismo não se iguala ao dos demais e isto é único.

...Toda saudade compila a presença do ausente – retratos vociferam histórias sem vozes...

Fazemos parte do passado de quem nos perpassou e se atravessamos caminhos desiguais é por não sermos tão iguais como esperávamos. Aliás, procuramos nas nossas vicissitudes a raiz da evolução geográfica e social, todavia, encontramos nelas a origem da emocional – seja para falar adeus sem ciúmes ou celebrar o ciclo amistoso de uma paz madura e fértil, o que é bom também.









sábado, 8 de maio de 2021

Você

...Que cantarola o amor sem cifrá-lo,

(com afeto a granel moído em paz).

Que nos alimenta ao poetizar seu doar;

Que pesponta as fissuras passionais;

Que é solar do amanhecer ao anoitecer

(e chuvosa ao se debulhar em louvor);

Que transforma problemas em poemas,

Que um dia era só filha, outro já era mãe,

Que faz com sua sina as melhores rimas,

Que é bálsamo, cura, estrada e lições...

A você

... Todo meu carinho neste textinho,

Cheio de afeto, razão e pura gratidão!

Mãe,

Quando você era só poesia... o olho de Deus brilhou quando te leu;

E quando foi música... Ele se encantou quando te ouviu;

Quando virou dança... Deus se empolgou, então, dançou e se divertiu;

E quando Ele a criou, foi generoso e te compartilhou...

Você que é bondosa de nascença e bonita também: é memória da música, poesia e dança que inspirou Deus.

Mesmo sendo arte escolheu ser labor e trabalhou como sempre, como nunca...

Foi e é ge(re)nte da gente. Espalhou com sua organização sua coerência (um arranjo divino em meio ao caos e desarranjo humano com sua paz).

Esta declaração é para agradecer a Deus pela melhor poesia dele: você, mãe – um esboço fiel versado no céu.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Como os demais

Não promovo uma cultura insustentável (eu acho), 

tão pouco absoluta (tento); 

Não conto a soberba seu estopim (pondero);

Não entrego-me a tramoias e transtornos (enfrento);

Não há refil para coragem sem verdade (constato);

Não escalo o pavor ao invés do amor (percebo);

Não edito o caráter análogo a vida (conservo);

Não abafo a estupidez sem tratá-la (encaro);

Eu beiro a astúcia é no silvo da pausa (concluo)

E a reforço no remanso dos sábios (escrevo).

sábado, 10 de abril de 2021

Força

Existe uma força dentro de mim que espelha a bravura e o medo que me fortalece;

Uma força sensível às respostas da vida que me leva a abster de toda angústia sem abonar a tristeza;
Uma força que me protege das alfinetadas que recebo e dou na surdina; Uma força que repele quem não se/me  interessa; 
Uma força que defende os finais neutros mais que os felizes...
E é esta força que tampona a ausência de sentidos agora;
É esta força que me desabriga do relento da (co)dependência;
Uma força indomável e coerente com a fraqueza que me faz abastada e carente!
Força esta que se expande e se encolhe na presença de outra força semelhante;
Força disforme, flexível e sem nome ou sobrenome!