Esta não é mais uma crônica de efeito, embora só a sua leitura dirá se te serve ou não o que escrevi. Aqui revelo um modo promissor para algumas (não todas) pessoas, chamado "cara de samambaia" – expressão usada por uma amiga cujo sentido é similar a "cara de paisagem". A lógica deste texto, a propósito, vem do diálogo que a gente teve no qual me identifiquei como adepta dessa cara.
Sobre esta, a própria consiste na postura – inspirada em uma planta – que demanda um certo treino, uma observação acurada , um dom trabalhado e uma sabedoria maleável. Depois de aprendida, fato, é inevitável usá-la na hora que alguém saí de si e te ofende, por exemplo. Eu diria que um dos intuitos dessa ação é se tranquilizar, com maturidade, para elaborar a melhor forma de resolver o conflito sem piorá-lo e/ou causar danos ainda maiores.
Ela vem junto a escolha que fazemos quando decidimos se queremos ter paz ou razão. Se você escolhe a paz, saiba: este é o primeiro passo para vivê-la. Todavia, é importante lidar com quem nos aduba, nos rega, nos poda e principalmente quem nos extirpa nos isolando até da sombra. Usuárias dessa cara são constantemente questionadas sobre "como elas dão conta?", a questão é exatamente essa: elas já sacaram que não tem que "dar conta" de tudo, só com aquilo que está ao alcance delas e se ouvir pode ser o ponto chave da percepção, por que não tentar?
Aqui cabe dizer que a cara de samambaia só é efetiva quando a pessoa conhece ou busca conhecer seus processos internos, cônscia das suas limitações e dos vacilos naturais que são postos para todos – até para quem, desautorizado, vai lá e puxa um pedaço que ainda não amadureceu. Porque possuímos fragmentos em formação, e prematuros, que estão enraizados a fim de crescerem no seu tempo e com sua identidade.
Samambaias são longevas – crescem com as crianças e amadurecem com os jovens, avançando a fase adulta com seu folhecer e força; são uma amostra da natureza sobre a paciência que devemos ter com a gente e com os outros. Logo, o acesso ao amor mais humano de todos: o próprio – faz esse carinho ceder aos demais uma parte única sua: a gratidão.